ao entardecer

 

ao entardecer

desce  o silêncio mansamente

como  se o dia fechasse as pálpebras cansadas

a gente olha os lampiões da rua  o brilho das pedras

 ouve os passos de quem passa  lá em baixo

a gente chega à janela para espiar as luzes acesas nas casas dos 

outros

inquirindo  se a solidão dos outros é igual à nossa solidão

se  as paredes das suas casas aguentam a noite

que ecos por elas  ecoam

de que lembranças são  testemunhas

 

(naquele  tempo  tu  chamavas

 e eu corria  para ti de olhos fechados

como um pequeno  pássaro apressado

a casa estava intacta com o seu regaço côncavo

e  as meninas adormeciam  com os cabelos finos desatados)

 

ao entardecer 

as aves recolhem do alto o silêncio

e espalham-no sobre os telhados

 no derradeiro voo de cada dia

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