as grandes cidades


as grandes cidades de largas avenidas
com altíssimas casas onde se vive
como em casulos de ferro e de vidro
são os sítios ideais onde a gente se esconde
as mulheres destas cidades têm os olhos fundos
do cansaço dos invernos longos
os homens são pálidos transeuntes pelas ruas
que não conduzem a casas mas a estúdios
onde nervosamente amam a deusa adormecida
dos sonhos de uma infância retida nos subúrbios

corpos alvacentos emergem do escuro
num ritual de gestos e cuidados para não pisar
       o corpo indemne que se cose ao chão
e fala-se baixinho num sopro sofrido
apenas murmúrios que o vento devolve

e são milhões os que vivem nestas cidades
e não se perguntam como chegaram aqui
a história de cada um vem escrita nas veias
e nos silêncios rudes que assombram os pântanos

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