a morte do búfalo






a morte do búfalo


Imóvel na planura incandescente
um  leão loiro espreita a sua presa
de puro gozo os olhos semicerra
à escuta do momento e de repente

como um raio se lança fulminando
o búfalo que de velho já coxeia
crava-lhe as garras duras na traqueia
donde o sangue em golfadas sai jorrando

sacode o velho búfalo a tenaz
que lhe rasga na carne cruas feridas
a custo se ergue nas pernas encolhidas
mas tomba com a cabeça para trás

reviram-se-lhe os olhos moribundos
tomado de abandono e solidão
em seu redor excita-se o leão
abrindo golpes cada vez mais fundos

mas eis que os outros búfalos retornam
em socorro do velho companheiro
ribombam os seus cascos dianteiros
seus corpos opulentos arremessam

contra o leão que célere se retira
à sombra de uma árvore solitária
e paciente espera que a manada
se disperse na tarde tranquila

sobre o búfalo todos se afadigam
em cuidados extremos em carinho
lambem-lhe o sangue negro do focinho
passam-lhe a língua áspera na barriga

acalma-se o ardor das feridas onde
os brutos animais o vão lambendo
uma frescura viva um quase alento
uma réstia de luz  brilhando ao longe

reabre os olhos e de novo sente
o forte odor da selva nas narinas
segue o voo das aves purpurinas
róseo carreiro que pelo céu se estende

mas um torpor de lago escurecido
cobre-lhe o corpo exausto e docemente
expira  o velho búfalo imponente
exalando o seu último rugido


Comentários