a mancha negra das árvores

a mancha negra das árvores

com o céu se confundia

tornando a noite mais densa

pintada a tinta da china

as luzes davam nas folhas

na sua superfície lisa

e as copas se juntavam

redondas e pensativas

olhos na noite se olhavam

não de frente mas esquivos

abrindo uma via única

porém de duplos sentidos

e entre eles passavam

silêncios subentendidos

na noite davam-se as mãos

em forma de largo círculo

que avançava ou recuava

conforme mandava o ritmo

mas se meu corpo bailava

só de fora é que se via

que meu coração estalava

como se fora de vidro

em duas me dividia

duas partes antagónicas

uma mais chegada ao dia

outra à noite melancólica

 

já os olhos não se olhavam

já as mãos se despediam

no chão da praça ficava

sequer uma  sombra híbrida

feita de sal  e  de mágoa

que ao  sol se dissipava

mas que de noite fulgira

 


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