na derradeira cama

na derradeira cama

dorme o teu corpo inerte

e eu volto atrás ao tempo do vento

das marés e das areias

e há uma clareira onde se ergue a cabana

dos pescadores de pernas nuas

que um dia chegaram à cidade

com os seus rostos graves e casacos largos

e há barcos que atravessam as águas

e no cimo dos barcos um pássaro vigia

e os teus braços caídos são os remos desse barco

tombado num mar sem redes

 

ao longe o eco dos risos

das monumentais e agrestes gargalhadas nos ouvidos

quando as coisas corriam naturais

eram tristes embora mas era uma tristeza leve

sem sustos sem lutos sem  este vazio

as camas eram de folhelho duro

mas a gente respirava com saúde e nervos

e a derradeira cama ainda não se via

nem os vultos negros assaltando a casa

 


Comentários