A morte não era visível

 

A morte não era visível em Junho

a menina dormia no açafate de rendas

os dias amanheciam sobre os muros

a vida escoava-se segundo as regras

regularmente

Às vezes perdíamos o rumo

mas o calor de Junho ondulava nos jardins

havia  as cerejas e os malmequeres nas jarras

 e é bom não esquecer os jacarandás

que explodiam em lilás contra o céu azul azul

A menina dormia no seu açafate

e a mãe afadigava-se para o colocar sempre

virado para o sol

 

A nossa  padeira estava viva

a porteira lavava as escadas invariavelmente

e as vizinhas eram quatro raparigas venturosas

 rindo para os dias com os seus dentes brancos

 

Tu eras linda como o sol  de Junho

teu punho  era uma rosa fechada

e não havia morte não havia morte

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