que pena tenho das mulheres

 

que pena tenho das mulheres  amantes

que esperam os amados

e se enfeitam com  colares baratos

brincos que bailam com o andar

travessas  de osso nos cabelos finos

e depois  desesperam  nas esquinas   

arrefecem esquecidas nas mesas dos cafés

mandam recados pelas amigas

às vezes pelas estrelas

quem sabe pelo pombo correio

que agora é só pombo e há muito

que não é  correio

porque dá muito trabalho e pombo

gosta é de esgravatar a terra

que espreita nos passeios sujos da cidade

 e os amados soberbos e frios

de perna traçada nas esplanadas

 põem óculos escuros para as ver passar

sorrindo sobranceiros

 

um dia elas olham-se ao espelho

vêem a mancha escura  das olheiras

os  lábios esbranquiçados

as mãos  com grossas veias

 

então  fazem-se afoitas  à vida

e vão pelas estradas sozinhas

sacudindo   as  cabeleiras

como deusas orgulhosas sem eira nem beira

 

Comentários