vejo-te e ver-te-ei sempre

 

vejo-te e ver-te-ei sempre

quando a noite fechava a casa de pedra

e à mesa se sentavam sem palavras o homem a mulher

e a criança cercada de mansidão

caía a poeira do silêncio sobre o chão

 as paredes escureciam as águas

e só tu ousavas  atravessar a penumbra com teus passos de lume

 

teu colo era uma barca de  ossos quentes

quando pegavas na criança adormecida

e lhe passavas na testa os dedos ásperos

traçando uma cruz para  defender  o futuro

 

eras um ser rente à infância e aos animais

 a quem falavas com a boca colada às orelhas

e eles ficavam  de focinhos imóveis  atendendo

depois percorriam contigo campos e montes

subindo   descendo   socalcos    valados

suando juntos

 

do fundo do tempo te ergues diante dos meus olhos

ó doce mulher atravessando a penumbra

enquanto dentro de mim se derrama o leite morno

de uma ternura intacta

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