errante

Pesquisar neste blogue

poupo as mágoas aos dias

março 11, 2022

Obter link
Facebook
X
Pinterest
Email
Outras aplicações

poupo as mágoas aos dias
guardo-as para as noites
quando passeio com algum deleite
debaixo de um céu azul
escuro e em repouso

Obter link
Facebook
X
Pinterest
Email
Outras aplicações

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares

é um rapaz ainda

é um rapaz ainda de calções azuis e joelhos à mostra joga à bola com os amigos sabe de quintais e barrancos corre de bicicleta contra o vento cheira a rapaz como cheiram as uvas em setembro este é o homem que todos os dias embate contra os muros até sangrar todos os dias pega na sua casa ao colo e pousa-a em chão seguro para que não se desmorone sempre que a vida lhe dá folga veste os calções azuis e com os joelhos à mostra salta barrancos e quintais e vai jogar à bola com os amigos mede os dias com uma fita de escombros e o rosto é de cortiça dura

velhos amigos

O cão de farto pêlo amarelado saltita no passeio e amiúde pára no meio e muda de atitude fitando circunspecto o empedrado por onde assoma o dono assaz barbudo de bigodaça crespa e alourada fumando a apetitosa cigarrada parecendo não ver nada e vendo tudo. Vê-se logo que são velhos amigos que há muito se acompanham e com o tempo foram ficando os dois muito parecidos, o mesmo pêlo e barba emaranhada o mesmo olhar trocista e ternurento que um ao outro deitam pela calada.

ao entardecer

ao entardecer desce o silêncio mansamente como se o dia fechasse as pálpebras cansadas a gente olha os lampiões da rua o brilho das pedras ouve os passos de quem passa lá em baixo a gente chega à janela para espiar as luzes acesas nas casas dos outros inquirindo se a solidão dos outros é igual à nossa solidão se as paredes das suas casas aguentam a noite que ecos por elas ecoam de que lembranças são testemunhas (naquele tempo tu chamavas e eu corria para ti de olhos fechados como um pequeno pássaro apressado a casa estava intacta com o seu regaço côncavo e as meninas adormeciam com os cabelos finos desatados) ao entardecer as aves recolhem do alto o silêncio e espalham-no sobre os telhados no derradeiro voo de cada dia

Com tecnologia do Blogger