como falarei do vento nas árvores

 

como falarei do vento nas árvores

seu dolente  ramalhar

 

como direi da repentina

aparição dos teus olhos murchos e sem choro recente

das tuas mãos gastas de esgaravatar o mundo

da tua corcunda derrotada

 

quem saberá das tuas noites frente às paredes da sala

cheias das sombras do velho jardim

que corrias de ponta a ponta na bicicleta novinha

 

como saberão dos teus pequenos vícios

inofensivos de olhar a vizinha que sacode os tapetes para a rua 

e tem uns olhos tão apetecíveis que valeria a pena ultrapassar

                                         essa timidez tacanha

                                         e dizer-lhe assim sem mais

como os seus olhos são apetecíveis

e que por eles serias capaz de grandes heroísmos

 

como direi da falta que me fazes agora

quando já não há futuro e apetece chorar sem razão alguma

o que eu seria capaz de te dizer se ainda fosse possível

e abraçar-te com fúria ou calmamente talvez

se tivesse aprendido a abraçar no tempo certo

 

como direi  tanta mágoa  tanto arrependimento

de não ter posto meu barco de sonhos a navegar

quando os dias eram navegáveis

 

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