no meio da noite em silêncio
sobre um canal de águas fundas debruçada
cercam-me aos poucos imagens de outros tempos
num cortejo lento de instantes gentes acasos
por exemplo a mesa posta para a festa de anos sem gente
e dois diospiros lustrosos oferecendo-se
à criança de pé sobre o chão de mármore
(já certa tristeza fazia o seu caminho para o futuro)
ou então a saia de lã que cobria os joelhos
tão lisos da mãe e eram colo e submarino
onde a criança afundava atrapalhações e lágrimas
ou o odor morno das tangerinas que entrava pela porta
aberta para o quintal em noites de trovoada
mas a paisagem mais luminosa
é a do mar da praia da infância
mar tão vasto que a criança se perde de assombro
depois dentro dos olhos fechados movem-se outras paisagens
em outras esferas mais turvas mais impalpáveis
Comentários
Enviar um comentário