todos os dias o homem alto

 


 

todos os dias  o homem alto

 passeava com a mulher baixinha

ele de sobretudo azul

ela de saia redondinha

compravam legumes na frutaria da esquina

sentavam-se na esplanada a olhar a rua

andavam para cima e para baixo 

monótonos  calados e de braço dado

 

depois despareceram

 

agora ele apareceu outra vez

mas sem a  saia redondinha ao  lado

 o sobretudo azul fica-lhe grande

junta mais os joelhos  os ombros descaíram

as barbas  brancas chegam-lhe ao pescoço

e à volta dos olhos  tem duas poças  cheias

das lágrimas  que ficaram da noite passada

 

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