Da minha varanda vejo

 

 

Da minha varanda vejo

toda a gente do meu bairro

e também a gente alheia

que por aqui se passeia.

Mas de quem eu vou falar

é da doce figurinha

de cabeça toda branca

e que ao andar coxeia.

Faça sol ou faça chuva

vejo-a descendo a rua

no seu passo inseguro

para ir à padaria

para comprar hortaliça

fazendo as compras do dia

ou então para ir à missa.

Assim se cumpre a rotina

dela e também a minha.

Mas há alguns dias porém

que não vejo a figurinha

vacilante da vizinha.

Talvez tenha adoecido

ou quem sabe até morrido

que morrer nada mais é

que deixar de ser visto

como já escreveu alguém

que sabia do ofício

de usar  palavras certas

lúcido e sem artifício.

Mas voltemos ao assunto

que me trouxe até aqui

e que agora eu resumo:

sumiu-se a velha senhora

nada explica o sumiço.

Foram dias e semanas

passou para lá de um mês

sem sinal mas mesmo agora

assim saída do nada

vejo a doce figurinha

descendo a rua outra vez.

Bato palmas de alegria

ao achar deste xadrez

a peça que me faltava.

E o mundo se refez

tal e qual como soía.

 

 

 

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