atravesso a manhã sentindo

 


 

atravesso a manhã  sentindo

o calor morno deste sol tardio de outono

passo pela banca dos jornais

e a vendedora sempre  irada contra  o mundo

dá o pequeno-almoço aos pombos

mas não a todos  só tem migalhas para alguns

os outros esvoaçam em  roda preteridos

e  eu deslizo pela manhã 

como um barco sem ruído

 presa dos teus olhos efémeros

das tuas mãos sem compromisso

um pouco cansada até desta monotonia

e quando regresso pelo mesmo caminho

já a vendedora está dentro do  cubículo

atrás de  uma muralha  de jornais e revistas

mas é gentil e acena-me

como se ainda não me tivesse visto

 

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