o homem trazido pela chuva

 

o homem trazido pela chuva

tem no olhar a dúvida e o espanto

seus passos hesitam como hesita o  coração

na ignorância dos dias claros

é um homem indecifrável

que se perde nos meses  de verão

deslumbrado pela luz das grandes planícies

e  regressa no inverno encostado à noite

quando a escuridão confunde  os caminhos

 

é o homem inadiável

há muito esperado na casa minúscula

para celebrar as derradeiras núpcias

por isso vem aos ombros da chuva

e traz no olhar a dúvida e o espanto

e quando atravessa  a rua de cabeça baixa

debaixo do guarda-chuva  

lembra a figura esguia de um quadro de alvarez

o  homem da gabardine  triste

no meio da chuva  numa praça sem gente